METODOLOGIA DO MAPENCO ATÉ O ANO DE 2006:
I- INTRODUÇÃO/OBJETIVOS:
Em muitos municípios do país tem sido frequente a ocorrência de movimentos de massa capazes de causar prejuízos de alto custo, mortes e pânico às populações.
Tal problemática, comum em ambientes montanhosos do meio tropical úmido, está diretamente associada ao processo geológico de evolução natural das encostas, que ocorre tanto em áreas de mata virgem quanto, e principalmente, em áreas urbanas degradadas. O município de Vitória reúne características físicas e de ocupação que propiciam tais acidentes.
A necessidade de avaliar, cadastrar e mapear criteriosamente as condições das encostas do município, possibilitou a criação de um Convênio entre a Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) e a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), através do Laboratório de Topografia e Cartografia do Instituto de Tecnologia da UFES, que constitui o PROJETO MAPENCO, visando o reconhecimento das condições geológico-geotécnicas das encostas do município, de modo a permitir a análise das várias situações de risco, gerando dados técnicos que sirvam de subsídios a administração pública no planejamento urbano. Essa análise deu-se através da localização, classificação e caracterização das diversas feições de instabilidade, induzidas ou não pela atividade antrópica, associando-as aos diversos elementos condicionantes, tais como: uso e ocupação do solo, declividade, geologia e características geológico-geotécnicas dos materiais, condições hidrológicas e climáticas, que possibilitaram a criação da planta de zoneamento de risco.
II - DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
II.1 - LOCALIZAÇÃO E EXTENSÃO
O Município de Vitória está limitado aproximadamente pelos paralelos 20° 14’ 30’’ e 20° 19’ 30’’ de latitude sul, e pelos meridianos 40° 13’ 26” e 40° 22’ 11” de longitude oeste.
Possui área de aproximadamente 81 Km 2 , abrangendo algumas ilhas e uma parte continental. A população do município é estimada em 260.000 habitantes, predominantemente de características urbanas.
As características fisiográficas do município apresentam-se na TABELA 1.
II.2 - OCUPAÇÃO URBANA DAS ENCOSTAS
A ocupação urbana da cidade de Vitória desde sua fundação, até meados deste século, restringia-se à pequena faixa de terra espremida entre o Maciço Central e a baía.
O crescimento e a expansão urbana da cidade foram condicionados pelas características do meio-físico, dando-se tanto em áreas de baixadas, quanto nas encostas dos morros. Entre as décadas de 40 e 60, registrou-se a ocupação das áreas onde situam-se atualmente os morros do Romão, Forte São João, Itararé, Constantino, Gurijica, Monte Preto, São José, entre outros. A partir da década de 60, a área do município foi ampliada através da execução de aterros e ocupação de planícies de restingas, além da ocupação das encostas do Maciço Central pelas classes menos favorecidas. Essa forma de ocupação das encostas deu-se praticamente sobre todos os morrros situados na malha urbana, ampliando, muitas vezes, a área dos bairros vizinhos.
III - METODOLOGIA UTILIZADA:
III.1- COLETA DE DADOS
A primeira fase do Projeto, constou basicamente da coleta de informações existentes nos arquivos públicos municipais, estaduais e na Universidade Federal do Espírito Santo, além dos principais jornais do Estado.
Foram levantados dados cartográficos, topográficos (plani-altimétricos), geológicos, pedológicos, geomorfológicos, uso do solo e cobertura vegetal, climáticos, geotécnicos e de declividade, a partir de cartas temáticas em escalas 1:50.000, 1:100.000 e 1:250.000.
Laudos de vistoria, relatórios de empresas e trabalhos técnico-científicos publicados, juntamente com as cartas citadas, geraram subsídios necessários à caractetização geológico-geotécnica e a confecção de overlays e plantas que compõem o Mapeamento das Áreas de Risco.
Foi utilizado uma base cartográfica em escala 1:2000, restituída a partir de fotos aéreas (preto e branco) em escala média de 1:8000 e dois conjuntos de fotos aéreas coloridas, em escalas de 1:2000 e 1:5000, para fotointerpretação do padrão de ocupação, estruturas regionais, cobertura vegetal, cicatrizes de movimentação, obras de contenção, acessos, afloramentos rochosos, matacões, etc., que auxiliaram também no deslocamento das equipes pelos diversos morros e permitindo a elaboração do Overlay geológico-geotécnico, do Overlay de Sugestões de Ação e da Planta Temática da Distribuição e Classificação das Áreas de Risco.
III.2 - MOVIMENTOS DE MASSA (CASOS HISTÓRICOS)
A consulta aos jornais e a busca dos termos de vistoria da Prefetura Municipal de Vitória, possibilitaram conhecer o histórico dos principais acidentes geotécnicos ocorridos no município.
O acidente que maior comoção causou na cidade, foi o do Morro do Macaco, na encosta do bairro Tabuazeiro, no dia 15 de janeiro de 1985, após intenso período chuvoso, onde o desplacamento rochoso com volume estimado de 50 toneladas, transformou-se numa avalanche de solo e blocos, em direção à planície, destruindo várias moradias e causando mais de 40 mortes.
Após este acidente vários novos riscos foram constatados no local, obrigando a PMV a executar diversas obras de contenção tais como: cortinas atirantadas, muros de concreto ciclópico, desmonte e fixação de blocos.
TABELA 1 - Caracterização Fisiográfica
CLIMA |
· Tropical chuvoso, AW, sem estação fria. Estação seca bem definida no inverno. Temperatura média em torno de 23,5°C |
VEGETAÇÃO |
· Pequenas manchas de formações florestais: Floresta Atlântica de Encostas, Floresta dos Tabuleiros Terciários e Floresta Paludosa Litorânea. |
GEOLOGIA |
· Terrenos Pré-Cambrianos constituídos por intrusões graníticas, formando o Maciço Central e vários morros isolados. |
GEOMORFOLOGIA
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· Região cristalina correspondente ao relevo montanhoso. Região sedimentar aplainada fluvio-marinha, formadora de praias, restingas, mangues e rias pantanosas. Região dos Tabuleiros Litorâneos correspondente às falésias. |
PEDOLOGIA
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· Podzólico vermelho amarelo distrófico A moderado; latossolo vermelho amarelo distrófico + cambissol + solos litólicos , presente nas áreas de relevo montanhoso; latossolo vermelho amarelo distrófico encontrado nas escarpas de platôs e áreas planas. |
III.3 - DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS:
“O Risco é a possibilidade de perigo, perda ou dano, do ponto de vista social ou econômico, a que determinada forma de ocupação (urbana, industrial ou viária) esteja submetida, caso sejam deflagrados movimentos de massa (escorregamentos ou processos correlatos)” (IPT - 1980)
Os pontos de risco, considerados como trecho localizado da encosta, assim como as áreas de risco que são setores mais abrangentes da mesma, e podem evidentemente incluir pontos ou moradias com menor grau de risco, foram diferenciados a partir das características geológico-geotécnicas, da taxa de ocupação, das feições de instabilização, da presença ou não de vegetação, entre outros fatores.
Com base nesta conceituação, foram definidas 03 (tres) Classes de Risco, apresentadas na TABELA 2, geradas pela relação: Susceptibilidade X Danos, aliada a análise comparativa e outros fatores condicionantes próprios de cada local.
As áreas de risco após classificadas, foram, codificadas para efeito de localização e diferenciação das áreas de mesmo grau de risco, que apresentam características distintas. Foram codificados também, os pontos de risco e suas respectivas seções transversais. Esses códigos estão descritos na TABELA 3.
III.4 - MAPEAMENTO GEOLÓGICO - GEOTÉCNICO
III.4.1- LEVANTAMENTO DE CAMPO
O mapeamento geológico-geotécnico é um método de trabalho que visa cartografar convenientemente as formações superficiais (solo e rochas), seus aspectos geomorfológicos, suas características geotécnicas e suas feições indicativas de processos de instabilização.
Para os trabalhos de campo, além da base cartográfica e das fotos aéreas coloridas citadas, foram utilizadas bússolas com declinatória, trenas de lona e fichas de campo.
Os trabalhos foram desenvolvidos através de caminhamento, estudando-se a área através de pontos descritos, afloramentos rochosos, cortes em rocha e/ou solo, depósitos superficiais, etc. A TABELA 4 descreve as observações técnicas seguidas pelas equipes.
TABELA 2 - Classificação dos Riscos
CLASSE DE RISCO I Representação Temática (cor): verde |
· Áreas que apresentam sinais inexpressivos de erosão, com reduzida possibilidade de acidentes ou destruição de moradias. |
CLASSE DE RISCO II Representação Temática (cor): amarelo |
· Áreas com moderada a alta possibilidade de acidentes envolvendo blocos, em terrenos de ocupação reduzida. |
CLASSE DE RISCO III Representação Temática (cor): vermelho |
· Taludes intensamente erodidos, área desmatada, blocos instáveis com alta possibilidade de causar acidentes. |
TABELA 3 - Codificação das Áreas, Pontos e Seções
ÁREA DE RISCO |
· Letra “A” seguida de 02 (dois) dígitos numéricos sequenciais. |
PONTOS DE RISCO |
· Letra “P” seguida de 02 ( dois) dígitos numéricos sequenciais. |
SEÇÕES |
· Letra “S” seguida de 02 (dois) dígitos numéricos sequenciais. |
TABELA 4 - Análise Geral do Risco
· Análise dos condicionantes geológico e estruturais. |
· Identificação e delimitação dos depósitos de tálus, colúvio e materiais residuais. |
· Avaliação da influência dos fatores declividade,morfologia e vegetação. |
· Identificação da influência de atividade antrópica (uso e ocupação do solo). |
· Identificação dos locais de escorregamento de solo, quedas de blocos, e processos erosivos de taludes naturais e artificiais. |
· Localização de pedreiras e área de exploração de blocos. |
· Indicação de obras de contenção: muros de arrimo, cortinas atirantadas, dispositivos de drenagens superficiais e profundas, pilares de sustentação, gabiões, etc... |
VII- BIBLIOGRAFIA
INSTITUTO DE PESQUISA TECNOLÓGICA (IPT) - Instabilidade da Serra do Mar no Estado de São Paulo, Situações de Risco, Ações Necessárias, Secretaria de Ciência e Tecnologia - Secretaria do Meio Ambiente, vol. I, (1980)